quinta-feira, 28 de outubro de 2010

Renato Russo e a Legião Urbana: uma outra estação


“Será que ninguém vê
O caos em que vivemos?
Os jovens são tão jovens
E fica tudo por isso mesmo
A juventude é rica, a juventude é pobre
A juventude sofre e ninguém parece perceber
Eu tenho um coração
Eu tenho ideais
Eu gosto de cinema
E de coisas naturais
E penso sempre em sexo, oh yeah!”


Ouvir rádio hoje em dia é um horror. Músicas ruins e artistas panacas tomaram conta das paradas das rádios que, apesar de todas dizerem ser melhores que as outras, são praticamente todas iguais. Eu tenho saudade de quando eu era moleque, lá em meados dos anos 80, quando comecei a formar meu gosto musical. Gostava de praticamente tudo, mas principalmente de rock nacional, e foi por esse caminho que eu segui.

Rock na metade da década de 80 era igual sertanejo universitário hoje em dia. Era o som das massas! Tava nas rádios, tava nos programa de TV. Ultraje a Rigor, Capital Inicial, Camisa de Vênus, Engenheiros do Havaii, Ira! estavam entre as minhas bandas preferidas. Época em que eles tocavam com guitarras a mil, sem essa frescura de acústico que acabou ressuscitando todas elas nos anos 2000.

"Todo adulto tem inveja, todo adulto tem inveja
Todo adulto tem inveja dos mais jovens
A juventude está sozinha
Não há ninguém para ajudar
A explicar por que é que o mundo
É este desastre que aí está"


Mas nunca, nem naquela época e nem depois, dei muita bola pra maior banda de rock do Brasil em todos os tempos: a Legião Urbana. Gostava de ouvir, por exemplo, “Angra dos Reis”, tanto que lembro até hoje quando vi o clipe pela primeira vez no programa Globo de Ouro, no domingo a tarde, esperando os Trapalhões começarem. Isso foi há quase 25 anos!!! Mas, resumindo, Legião Urbana não bateu na orelha como as outras bandas. Prova disso é que só tenho cinco eu seis discos deles em casa...

Mas, tenho um respeito imenso pela banda, em especial por Renato Russo. Não só por causa daqueles papos de que ela era sensível, falava a linguagem dos jovens e tudo mais... Respeito ele porque, diferente da maioria dos artistas de hoje e também daquela época, ele nunca esqueceu que antes do Renato Russo existia o Renato Manfredini Júnior, nome verdadeiro do cantor. Ali, havia uma pessoa, com sentimentos, alguém que não jogava a favor da torcida. Não falava pra agradar os outros. Pelo contrário, ia contra a multidão, fazia valer o que ele pensava...

“Eu não sei, eu não sei
Dizem que eu não sei nada
Dizem que eu não tenho opinião
Me compram, me vendem, me estragam
E é tudo mentira, me deixam na mão
Não me deixam fazer nada
E a culpa é sempre minha, oh yeah!”


Gay, drogado, alcoólatra, depressivo, inteligente e provocador ao extremo. Com um currículo desses, se fosse nos dias de hoje Renato Russo não teria lugar no cenário da música brasileria. Porque hoje tem que ser tudo muito politicamente correto, tudo muito limpinho, a música tem que ser inofensiva e os artistas são proibidos de pensar... Isso é deprimente.

Por isso, a notícia que toda a discografia da Legião Urbana está sendo relançada em vinil e em CD me deixa contente. De repente, a molecada de hoje presta atenção em alguma coisa e percebe que pode existir vida inteligente na música brasileira, que música ajuda a crescer, que música ajuda pensar... Acho que já chega de só cantarolar os sucessos ocos de significados que imperam na música brasileira hoje...

“E meus amigos parecem ter medo
De quem fala o que sentiu
De quem pensa diferente
Nos querem todos iguais
Assim é bem mais fácil nos controlar
E mentir, mentir, mentir
E matar, matar, matar
O que eu tenho de melhor: minha esperança
Que se faça o sacrifício
Que cresçam logo as crianças”(*)


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(*) Letra de “Aloha”, do disco “A Tempestade”, lançado em 1996, dias depois da morte de Renato Russo.

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