"Se as crianças não forem expostas a música estranha, elas podem muito bem crescer, ir à escola, arrumar empregos, ter filhos... e morrer! Sem nunca terem experimentado a loucura! Isso é muito perigoso!" - LUX INTERIOR
quinta-feira, 7 de outubro de 2010
Chess e Matador, duas gravadoras que fizeram história
Por KID VINIL
As gravadoras independentes sempre desempenharam um papel importante para o rock. Dois grandes selos são homenageados através de caixas com vários CDs contando um pouco de suas histórias.
A Chess Records, uma gravadora de Chicago, foi pioneira no rock and roll. O registro do primeiro rock gravado foi por esse selo em 1951, com a música “Rocket 88”, de Jackie Brenston e a banda de seu primo Ike Turner (aquele mesmo que mais tarde se casou e formou dupla com Tina Turner). O grupo se chamava The Kings of Rhythm. A gravação foi feita no Sun Studios, que pertencia a Sam Phillips, o mesmo que mais tarde descobriria Elvis Presley.
Esse foi o começo da história do rock, num selo que pertencia a dois judeus, Leonard e Phill Chess. A princípio, os irmãos descobriram os grandes nomes do blues como John Lee Hooker, Howlin’ Wolf, Muddy Waters, Willie Dixon e Sonny Boy Williamson II.
A história continuou com Chuck Berry, que em 1955 – por sugestão de Muddy Waters – foi conversar com Leonard Chess para ver se conseguia gravar em seu selo. Em uma audição, Chuck Berry mostrou uma música chamada “Ida Red” e foi para o estúdio gravá-la. Rebatizada como “Maybellene”, a faixa foi lançada em 1955 e acabou no topo das paradas, sinalizando um futuro brilhante para Chuck Berry e para o rock and roll. Outro pioneiro na Chess Records foi Bo-Diddley, um músico do Mississipi que fez sua primeira gravação também em 1955, com a música “Bo-Didley”, e marcou seu estilo com o famoso som das maracas de Jerome Green.
A Chess Records existiu como gravadora no período de 1947 a 1975 e foi parte integrante da trajetória do blues, do R&B, rock and roll, doo wop, gospel, soul e jazz. Nela, Bo-Didley e Chuck Berry registraram seu maiores clássicos. Etta James – a primeira rainha da soul music – também começou ali, assim como Laura Lee e Irma Thomas. Lançaram clássicos do rock como “Suzie Q”, originalmente gravada por Dale Hawkins em 1957, mais tarde regravada pelos Rolling Stones e pelo Creedence Clearwater Revival. Aliás, os Stones têm na Chess Records sua maior fonte de informações e influências. Se interessar ter em sua estante esse testamento em forma de livro com quatro CDs, procure “A Complete Introduction To Chess” aqui.
Avançando algumas décadas na história do rock encontraremos o selo Matador Records, uma gravadora nova-iorquina que está completando sua maioridade oficial, 21 anos. Para comemorar essa data, a Matador lança uma caixa com seis CDs chamada “Matador at 21”.
Fundado em 1989, por Chris Lombard e Gerard Cosloy, o selo se tornou uma das maiores referências para o indie rock dos anos 90, até os dias de hoje. Seus primeiros contratados foram bandas como o Superchunk, um grupo da Carolina do Norte que ainda está na ativa e acaba de lançar o excelente “Majesty Shrediing”, por um selo chamado Merge Records, que também tem uma trajetória bem parecida com a da Matador. Os grupos que ficaram mais conhecidos durante a década de 90 pela Matador foram sem dúvida o Pavement, John Spencer Blues Explosion e Yo La Tengo.
Por lá, também passaram os cultuados Guided by Voices, Liz Phair e a fabulosa Chan Marshall e seu Cat Power. A Matador serviu de abrigo e plataforma de lançamento de bandas japonesas como Pizzicato Five, Guitar Wolf e Cornelius. No final dos anos 90, ainda lançou nos Estados Unidos a banda britânica Belle & Sebastian.
Gostaria de acrescentar que nesse caso tenho uma história pessoal com a Matador. Em 2000, estava no cargo de gerente internacional da Trama e viajamos eu e mais um outro diretor artístico da gravadora para Nova York, a fim de negociarmos o catálogo da Matador para ser lançado no Brasil. Naquela época, poucos conheciam por aqui a fama da Matador como a mais promissora das gravadoras independentes americanas. Para mim foi um verdadeiro desafio convencer os diretores da Trama a representarem os caras em nosso país.
O catálogo da Matador não era pra qualquer ouvido, pois além de “cult”‘ tinha o ingrediente da música mais anarquista do final dos anos 80 que aglomerava estruturas confusas do pós punk, agregadas àquilo que convencionaram chamar de “lo-fi” (gravações rudimentares e bem distantes de qualquer mega produção). Para muitos, soava como uma anti-música, depois de toda aquela parafernália tecnológica lançada nos anos 80.
Um momento que nunca esqueço foi quando eu e esse amigo fomos ao show da Cat Power em Nova York e na segunda música ele disse: “Chega!, vamos embora! Não agüento mais esse povo brincando de fazer música ao contrário”. O mesmo aconteceu quando ele recebeu um CD do Belle & Sebastian e ameaçou jogá-lo pela janela.
É verdade, a Matador era um selo pra poucos ouvidos, os mais antenados eu diria. Na reunião para convencer o dono da Trama, para minha sorte tinha o João Marcelo Bôscoli do meu lado, que acreditava nas minhas buscas por novos selos e numa nova música. Daí , consegui convencer o André que seria importante para a Trama assinar com uma gravadora como a Matador.
Lançamos quase todo o catálogo da gravadora, foi uma ousadia, mas contrariando o que muitos pensavam, conseguimos bons resultados de vendas e acima de tudo um status de gravadora independente para a Trama que naquele momento representava um dos mais importantes selos do indie rock americano. Aquele mesmo Belle & Sebastian que meu amigo quis atirar pela janela vendeu quase 100 mil cópias. Num país em que o pagode e o axé dominavam as vendas no início de 2000, isso é uma grande façanha e mais uma prova de que existe um público interessado no rock independente.
A Matador continuou sua busca por novos talentos nessa nova era, vieram Interpol, Mogwai, The New Pornographers e pós Pavement a carreira solo de Stephen Malkmus. Nos últimos dois anos, integraram o time de artistas os veteranos do Sonic Youth, os novatos do Fucked Up, Ted Leo & the Pharmacists, Jay Reatard, Times New Viking e Cold Cave. A cada dia que passa a Matador tem sempre uma novidade para nos apresentar, é só acessar o site deles e conferir o que há de novo na cena indie.
Na semana passada, a Matador celebrou esse aniversário de 21 anos com um grande show em Las Vegas, onde tocaram Sonic Youth, Pavement, Cat Power, Superchunk, Yo La Tengo e Guided by Voices, dentre outros.
FONTE:
http://colunistas.yahoo.net/posts/5522.html
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