terça-feira, 14 de setembro de 2010

Superguidis: entrevista e resenha sobre novo disco


Já que postei ontem o link para download do último disco do Superguidis, segue aí uma resenha e uma entrevista com a banda. Vale a pena conferir...

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Textos e entrevista por Marcos Araújo (gentilmente cedidos por Portal RockPress)

De tempos em tempos aparece alguma banda pelo Brasil afora disposta a sacudir o marasmo do rock nacional. A maioria delas surge no minado terreno underground, sendo levada aos trancos e barrancos até ser descoberta por outra banda maior, muitas vezes tarde demais.

Nos anos 1990, muitas garagens tremeram com o som dos paulistas do Pin Ups, Mickey Junkies, Killing Chainsaw; os brasilienses Oz e Low Dream; e os cariocas Dash, Beach Lizards e Second Come. Todas cantando em inglês, afinal essa era a moda da época. Sem internet, sem celular, sem CD... Tempo das fitas demo, fanzines xerocados e correspondências através de cartas. Dessa leva, talvez o Second Come tenha sido a que mais conseguiu destaque e, provavelmente, a banda teria se transformado em um novo Nirvana ou Pixies tupiniquim não fosse o finado vocalista Fábio tão arredio.

Hoje já temos um cenário todo modificado: redes sociais, blogs, fotologs, orkuts, facebooks, formsprings, myspaces, youtubes da vida. E nada do sotaque da terrinha da rainha e dos pubs. Contudo, mesmo com todas essas “facilidades” para a autopromoção, temos a sensação de que existiam mais bandas na década passada. Para essa temática, rolaria até outra matéria...

O fato é que desde a época do Second Come não surgia uma banda nacional de rock que fosse tão legal ao ponto de levar uma “galera” pra sacudir nos shows como a Superguidis. Vale informar que o nome da banda foi criado a partir de uma gíria gaúcha para um par de tênis e ela vem de uma cidadezinha chamada Guaiba, que fica mais ou menos a 30 quilômetros de Porto Alegre.

"A tendência é de exigirmos cada vez mais de nós, tanto musical como profissionalmente. Estamos chegando na casa dos 30 anos, não temos mais idade para brincar de ter uma banda de rock"

A banda é formada por Andrio Maquenzi (voz e guitarra), Lucas Pocamacha (guitarra e voz), Diogo Macueidi (baixo) e Marco Pecker (bateria). Surgiu em 2003, quando lançou o EP O Véio Máximo, com influências de Guided By Voices, Weezer e Pavement. Em 2004 saiu mais um EP, Ainda Sem Nome, que no mesmo ano foi compilado no disco Pacotão junto com o EP do ano anterior. Somente em 2006 os meninos lançaram o primeiro petardo oficial, Superguidis, pela Senhor F.

A Superguidis firmou-se como uma das principais bandas do rock brasileiro com seu segundo disco, A Amarga Sinfonia do Superstar, lançado em meados de 2007, já com a produção de Philippe Seabra. O disco também foi lançado no exterior e consolidou o espaço conquistado com o primeiro álbum, confirmando o perfil de uma banda de carreira, com talento e fôlego autoral, além de abrir novos horizontes musicais e de público.

Depois de terem participado de praticamente todos os festivais nacionais – como o Humaitá Pra Peixe (RJ), Abril Pro Rock (PE), Porão do Rock (DF), MADA (RN), Bananada (GO), Calango (Cuiabá MT) – e também Argentina e Uruguai; além de ganharem resenhas positivas em veículos de peso no Brasil e Argentina mais um superelogio do guitarrista do Guided By Voices, a Superguidis lança agora o terceiro CD, volta de um novo festival em Buenos Aires e começa uma turnê nacional tocando em várias capitais brasileiras.

Ao vivo eles são melhores ainda. Com sua fábrica de hits e com uma energia incrível, costumam bombardear o público, que sabe todas as letras do início ao fim, entoadas com paixão e fúria. Taí uma banda maneira! Se você ainda não os assistiu ao vivo, não deixe de acompanhar a agenda dos caras para saber quando estarão próximo de você. Vida longa aos Guidis!

RESENHA

Lançar o terceiro CD é uma tarefa complicada. É quase uma obrigação de provar pra todo mundo que o som se consolidou. Ou, então, a hora certa de experimentar novos caminhos. Essa “obrigação” aumenta ainda mais quando se trata de um nome independente no cenário nacional, que teve o disco de estreia na lista dos melhores. Afinal, a banda é boa ou não é? Sobrevive ou não?

Superguidis, o álbum, foi gravado em Brasília, no estúdio de Philippe Seabra – que pela segunda vez, produziu o trabalho. Com 11 canções, o disco, lançado pelo selo Senhor F, foi mixado e masterizado nos Estados Unidos. Todo esse cuidado que a banda teve com a produção, com o som perfeito, a clareza dos instrumentos e os arranjos caprichados acabaram causando um estranhamento. O duelo de guitarras de Andrio e Lucas, que são a marca registrada do Superguidis, ficou meio apagado. E quem acompanha a história do quarteto, sabe que bandas 90s como Cell, Drop Nineteens, Come e Superchunk, com todas aquelas guitarras sujas e criativas, sempre estiveram presentes na sonoridade do grupo. Aliás, os pedais de efeito são criados artesanalmente pelo guitarrista Lucas. Em algumas canções elas reaparecem e aí se destacam. É só ouvir “As Camisetas”, “Não Fosse o Bom Humor” e “Quando Se é Vidraça”, que remetem ao bom Superguidis de antigamente.

Pode parecer clichê. Este terceiro álbum aponta para novos caminhos, mas ainda possui uma certa dúvida para qual estrada seguir, como se fosse um adolescente entrando para a fase adulta, com todas as suas aflições, lamentações e a angústia de estar em pé, seguindo um caminho sem deixar de olhar para trás. A sujeira e o esporro juvenil estão lá, mas também estão os novos arranjos intimistas com cordas e piano. Esse sentimento acaba sendo entregue em versos de duas canções: “Quero minha rotina de volta/ Já passei por mudanças demais” (“Nova Completa”) e “Aos meus amigos toda a acidez/ De um abraço embriagado/ E a simplicidade de quem tem/ Um par de tênis furado” (“Aos Meus Amigos”, a ótima – e quase épica – canção que fecha o disco).

Apesar destes vários caminhos e sonoridades, Superguidis é um bom disco. É sincero. Coisa rara de se ver e ouvir.

ENTREVISTA

O que mudou de 2003 pra cá na concepção da banda?
Marco Pecker (baterista): Mudou a nossa idade... (risos) E com ela tudo que nos envolve. Tínhamos 18 anos quando começamos, éramos inexperientes em relação a tudo e principalmente inexperientes como uma banda. Essa experiência só vem com a estrada. As bandas precisam ralar muito para darem o necessário valor a tudo que se conquista. Hoje temos uma noção muito maior do que queremos como banda e principalmente do que queremos com as músicas. Por isso o terceiro disco demorou tanto para ficar pronto, porque sabíamos claramente como cada música deveria soar. A tendência é de exigirmos cada vez mais de nós, tanto musical como profissionalmente. Estamos chegando na casa dos 30 anos, não temos mais idade para brincar de ter uma banda de rock.

Como foi o processo de criação para o novo disco?
Este trabalho é o amadurecimento de uma ideia de disco, com início, meio e fim. Tivemos tempo para pensar e compor ele, diferentemente dos outros discos que eram um apanhado das músicas que tínhamos prontas. A cara do disco começou a aparecer no estúdio, que fica aqui em casa. Começamos a gravar as músicas para a pré-produção e fomos brincando com samples de violinos, cellos, pianos. O resultado no começo foi estranho mas chamou nossa atenção, tanto que mantivemos isso e o resultado foram quatro músicas do disco utilizando estes experimentalismos nossos (risos). Claro que no disco são violinos e cellos de verdade, o sample ficou somente na demo. Quando chegamos em Brasília para gravar o disco já sabíamos exatamente o que queríamos. Isso nos poupou tempo e ao mesmo tempo nos deu mais confiança com as composições.

O som de vocês é bem calcado no som alternativo das “guitar bands” dos anos 90. Como é fazer indie rock em português?
Para nós é algo natural. Desde o começo sempre fizemos músicas em português. Nunca passou por nossa cabeça fazer diferente. Mas quem sabe um dia não gravamos um disco com versões em espanhol? Seria no mínimo divertido.

O que vocês têm ouvido ultimamente? Essas bandas acabam também de certa forma influenciando no som dos Guidis?
O que ando ouvindo muito, exaustivamente, sem parar, são os três últimos discos do Soundgarden (Badmotorfinger, Superunknown e Down On The Upside), que para mim são obras-primas dos anos 90. Com certeza isto influencia diretamente na composição das músicas, nossos três discos representam exatamente o que estávamos ouvindo em determinada época. Certamente nosso próximo CD será, pelo menos da minha parte, influenciado diretamente pelo Matt Cameron... (risos)

Como está o cenário alternativo em Porto Alegre? E os locais para tocar?
Porto Alegre está na entressafra. Bandas novas estão surgindo sempre, algumas com ideias muito boas, outras nem tanto, não citarei nenhuma banda porque certamente esquecerei de alguém que vai me cobrar depois... (risos) Mas o bom daqui é que você pode ir praticamente todos os dias da semana em qualquer bar que sempre terá uma banda legal se apresentando. O problema é o público. Acho que eles deveriam dar mais atenção para as novas bandas, sair para VER E OUVIR as bandas. As pessoas pagam para ouvir um DJ que vai tocar a música que elas poderiam ouvir diretamente no show da banda que elas não pagam para ir. Será que eu me fiz entender? (risos) É frustrante ver um DJ lotando uma casa mais do que uma banda. DJ qualquer um pode ser, agora sentar, criar uma música e fazê-la chegar aos ouvidos de uma pessoa que mora em Belém do Pará, como é o nosso caso... isso sim é o verdadeiro desafio! E locais para tocar sempre existem, mas nós costumamos achar que a grama do vizinho é mais verde que a nossa. Quando vamos para outros estados achamos que lá é melhor. E lá ouvimos as mesmas reclamações que fazemos aqui.

Recentemente vocês tocaram em Buenos Aires, em um festival. Como é a receptividade do público argentino? Como foram os shows por lá?
Esta foi nossa terceira vez em Buenos Aires e cada vez a receptividade é melhor! Fizemos três shows em cidades diferentes, San Miguel, Mar del Plata e Buenos Aires. Todos ótimos, mas o destaque principal foi o Festival Ciudad Emergente, em Buenos Aires, na Praça da Recoleta. Fomos a penúltima banda. Ou seja, tocamos antes da atração principal. Foi lindo ver a praça cheia e muitos dos argentinos cantarolando as músicas. Deixamos o palco felizes pra caramba! Saímos de lá com o convite para voltar ainda este ano. Nossa resposta é “SIM, voltaremos!”.

FONTE: http://www.mondobacana.com/musica-agosto-2010/superguidis.html

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