"Se as crianças não forem expostas a música estranha, elas podem muito bem crescer, ir à escola, arrumar empregos, ter filhos... e morrer! Sem nunca terem experimentado a loucura! Isso é muito perigoso!" - LUX INTERIOR
quarta-feira, 29 de setembro de 2010
Nada destrói uma banda como a vida na estrada
Por ANDRÉ BARCINSKI
Acabei de ver “Tell Me Do You Miss Me’, um ótimo documentário sobre os últimos dias de uma ótima banda, o Luna (foto).
O Luna foi o projeto que Dean Warehem criou logo depois de acabar com o Galaxie 500, um trio lo-fi que fez história com um pop etéreo, que influenciou não só a distorção do My Bloody Valentine quanto as melodias sessentistas do Teenage Fanclub.
O Luna era uma grande banda. “Penthouse”, de 1995, é o maior disco deles, e um que ainda ouço de cabo a rabo. Coisa fina.
Dean Wareham e o Luna estiveram no Brasil em 2001. Acabaram sendo entrevistados e tocaram ao vivo no Garagem, o programa que apresento com meu amigo Paulo Cesar Martin.
“Tell Me Do You Miss Me” mostra os últimos seis meses da carreira do Luna, desde o momento em que a banda anuncia sua última turnê.
É um caso raro de documentário sobre rock que não tenta glamourizar a vida na estrada, mas que mostra a pura verdade: o que mata bandas, mais que brigas ou desentendimentos, são as turnês.
O Luna nunca fez grande sucesso. Tem fãs em todos os lugares, mas nunca passou de uma banda média, em termos de popularidade. Nos Estados Unidos, tocava para 300, 400 pessoas. Nas cidades maiores, podia chegar a uns 800.
E a vida para essas bandas não é fácil: viajar de van por oito horas de uma cidade a outra, no meio de tempestades de neve; comer em lanchonetes horríveis numa estradinha perdida em algum fim de mundo qualquer; montar seu próprio equipamento e desmontar tudo depois do show, só para entrar na mesma van apertada e pegar mais oito horas de estrada.
Quando o Luna chega para shows no Japão, logo antevemos cenas de histeria em aeroportos e fãs correndo atrás da banda.
Nada disso. Os quatro aparecem dormindo no saguão de um hotel meia boca, exaustos. Depois, carregam os equipamentos e vão para a passagem de som – de metrô!
É o suficiente para deixar qualquer um maluco. Especialmente pessoas como estas, que têm uma vida fora da banda, que gostam de ler, de ir ao cinema, que têm filhos, esposas e ex-esposas.
“Tell Me Do You Miss Me” é como a própria música do Luna: um filme calmo e reflexivo, que consegue passar sua mensagem sem apelar para táticas de choque.
No fim, você fica chateado pelo fim da banda, que é melhor que 99% das porcarias que o Pitchfork anuncia todo dia. Mas estranhamente aliviado por ver que essas pessoas estão livres do martírio da estrada.
FONTE:
http://andrebarcinski.folha.blog.uol.com.br/
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