"Se as crianças não forem expostas a música estranha, elas podem muito bem crescer, ir à escola, arrumar empregos, ter filhos... e morrer! Sem nunca terem experimentado a loucura! Isso é muito perigoso!" - LUX INTERIOR
segunda-feira, 13 de setembro de 2010
Roqueiro cinquentão remói decepções em novo livro de Tony Bellotto
Narrado em primeira pessoa, "No Buraco" (Companhia das Letras, 2010), do titã e escritor Tony Bellotto, conta os apuros pelos quais um roqueiro cinquentão decadente passa.
O romance traça a vida de Teo Zanquis desde sua vida agitada na estrada --regada a drogas, sexo e rock'n'roll-- à sua recente paixão por uma jovem coreana que conhece em uma loja de discos no centro de SP.
Na praia de Ipanema, no Rio, Zanquis está falando consigo mesmo e começa a narrar sua própria história. O roqueiro sofre ainda as consequências do seu fugaz sucesso -- "one hit band" nos anos 1980-- e posterior anonimato, que o deixa decepcionado.
Bellotto expõe um tipo solitário, que caminha sem ilusões para a velhice, remoendo suas decepções pessoais e artísticas. Ao mesmo tempo, o personagem engata uma paixão por uma jovem coreana e se torna amigo de figuras de quem jamais imaginaria se aproximar.
LEIA TRECHO DO LIVRO:
Passo de vez em quando pelas lojas e sebos das galerias do centro. Apesar de não ser mais ligado à música, gosto de jogar conversa fora com músicos e gente que ainda cultua discos, de preferência velhos discos de vinil, daqueles que se pode admirar a capa e ler as letras no encarte sem o auxílio de óculos ou lentes de aumento. Gente que chama discos de álbuns e que discorre - e eventualmente discute até a morte - sobre os dez melhores discos de rock de todos os tempos. "Elvis Presley" (o primeiro do Elvis), "Sargent Pepper's Lonely Hearts Club Band", "Exile on Main Street", "Who's Next?", "Led Zeppellin IV", "Are You Experienced?", "Catch a Fire", "London Calling", "Appetite for Destruction" e "Nevermind", por exemplo, e essa não é sequer a minha lista. É uma lista hipotética, talvez política e cronologicamente correta demais para o meu gosto. Por exemplo: esqueci de incluir na lista "Paranoid", do Black Sabbath, e isso seria motivo suficiente para que uma fatwa fosse decretada contra mim nos altos escalões das galerias roqueiras do centro de São Paulo. E nem sequer citei - heresia das heresias - o "Never Mind The Bullocks", do Sex Pistols.
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