"Se as crianças não forem expostas a música estranha, elas podem muito bem crescer, ir à escola, arrumar empregos, ter filhos... e morrer! Sem nunca terem experimentado a loucura! Isso é muito perigoso!" - LUX INTERIOR
quarta-feira, 28 de setembro de 2011
Rock in Rio
Por CRISTIANO VITECK
E todo mundo fala do Rock in Rio 4. Mais críticas do que elogios. E dá até para entender quem reclama do excesso de atrações pop como Rihanna e Katy Perry ou artistas do naipe de Milton Nascimento (o peixe fora d’água, o Carlinhos Brown desta edição) ou as sem sal e sem açúcar Ivete Sangallo e Cláudia Leitte. Para fazer jus ao nome do festival, rock mesmo, de verdade, só no último domingo, com Slipknot, os velhacos do sempre ótimo Motorhead e o casca-dura Metallica, que fez muito bem aquilo que sabe fazer, mesmo com o vocalista James Hetfield estando com a aparência do técnico Mano Menezes, nem de longe lembrando uma fuça digna de uma estrela maior do metal.
Mas o Rock in Rio 4 é o que sempre foi: um festival pop pra assistir com toda a família. Em todas as edições sempre teve as atrações nada a ver, os mega-astros, os artistas brasileiros tirando coelho da cartola para não passarem desapercebidos em meio a tantos artistas estrangeiros (Dinho, do Capital Inicial, e seu discursinho adolescente contra o Sarney e a política brasileira foi o momento vergonha alheia. Um toque de rebeldia tão ousado e radical quanto a “Satisfaction” da Cláudia Leitte). E claro, tem a cobertura sempre ridícula da Rede Globo.
Podemos dar um desconto e ao primeiro Rock in Rio, em 1985. Nomes como Queen, Ozzy Osbourne, AC/DC e B-52’s, Nina Hagen, Scorpions deram mais dignidade ao nome do festival, assim como, por exemplo, as bandas brasileiras Barão Vermelho, Paralamas do Sucesso e Ultraje à Rigor. O festival foi realizado em um momento importante do Brasil. Ocorrido em janeiro daquele ano, o Rock In Rio acontecia ao mesmo tempo em que o país colocava na presidência, desde o golpe militar de 1964, um presidente civil, eleito por voto indireto, para conduzir os destinos da nação. Era o fim da ditadura e o Rock in Rio meio que virou símbolo daquele momento de maiores liberdades políticas.
Além do mais, o Rock In Rio de 1985 deflagrou definitivamente a explosão do rock nacional, que imperou na programação das rádios e da televisão naquela época. O rock nacional, na segunda metade da década de 80 era o sertanejo universitário de hoje, em termos de popularidade. Cazuza era o Luan Santana e “Beth Balanço” era o “Meteoro da Paixão”.
O Rock in Rio entrou para a história por ser o primeiro grande festival de música a ser realizado no Brasil. Daí da sua fama. Desde o início, o Rock In Rio sempre jogou a favor da torcida, esforçando-se (sem erro algum nisso) para trazer ao país os artistas com mais evidência no momento. Teve suas exceções, como o Neil Young & Crazy Horse em 2001. Mas são casos que fogem à regra. Daí que não deveria causar estranhamento a escalação desta quarta edição, mesmo sendo a mais pop de todas. O Rock in Rio só aposta na diversidade de estilos para garantir seu público.
Para quem se interessa de verdade por música que vai além da trivial, o Brasil conta com outros festivais bem mais interessantes, como o Planeta Terra e o SWU, que acontecem agora em novembro, ou o Lollapalloza, que desembarca no país pela primeira vez em abril do ano que vem. São destinos bem mais interessantes pra quem quer fugir da banalidade do Rock in Rio e quer ver rock no palco, e não só no nome do evento.
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