segunda-feira, 20 de setembro de 2010

Uma Noite em 67


Por TÚLIO BRAGANÇA

Um festival de música popular brasileira nos anos 60 era muito mais do que só canções, cantores e melodias. Com a ditadura forte como nunca por aqui, a explosão do rock lá fora (com a turma de Beatles e Rolling Stones) e o aparecimento na mesma época de tantos artistas que marcariam gerações brasileiras, Uma Noite em 67 (Videofilmes/Rede Record) foi uma baita de uma noite.

O documentário retrata todos os detalhes daquele 21 de outubro de 1967, quando a Rede Record realizou no Teatro Paramount (SP) o 3° Festival de Música Brasileira. O que era para ser um simples programa de TV, com preocupações normais com audiência e produção, acabou se tornando um marco na música brasileira.

No mesmo palco, competindo, estavam Roberto Carlos, Gilberto Gil, Caetano Veloso, Chico Buarque, Edu Lobo, Sérgio Ricardo e Os Mutantes. O que estava em disputa não era apenas o primeiro lugar no festival, mas sim os rumos da própria música nacional.
De um lado estavam Caetano e Gil com suas ideias inovadoras e tropicalistas, usando guitarras e a força do rock. Eles batiam de frente com a turma mais conservadora e purista, que dizia que guitarra era coisa de gringo e a música brasileira não poderia ser contaminada por isso. Correndo por fora havia a turma jovem da Jovem Guarda e do iê-iê-iê e um Chico Buarque que confessa no filme ter se sentido sozinho no meio de tudo isso.

Com imagens da época misturadas aos depoimentos de hoje daqueles que participaram, Uma Noite em 67 é o retrato de uma geração musical nunca antes visto no Brasil. São detalhes, músicas, bastidores e até mesmo uma autocrítica dos músicos que ajudaram a transformar melodias e harmonias nacionais em um ícone do país em todo mundo. Desde o organizador do evento – dizendo que ele via o festival como uma novela onde era preciso ter o mocinho, o bandido, o pai da noiva – a jurados – confessando que foram idiotas por participar de uma marcha contra a guitarra elétrica – o documentário mostra todos os personagens daquela mítica noite, inclusive o público ativo e um tanto quanto intolerante não se atendo somente aos músicos.

E há também Caetano Veloso, ao violão, tentando hoje se lembrar como se tocava “Alegria, Alegria”; Chico Buarque sentindo saudade da beleza da juventude e esboçando a letra de “Roda-Viva”; Gilberto Gil confessando o ataque de pânico que teve antes de entoar “Domingo no Parque”; e Sérgio Ricardo dizendo que não se arrependeu de ter brigado com o público e quebrado um violão em um ataque de fúria.

Hoje praticamente não importa mais qual canção saiu em primeiro ou ficou em quinto lugar naquele festival, mas sim que toda a música brasileira saiu ganhando. E com certeza nunca mais foi a mesma.

FONTE:
http://www.mondobacana.com/filmes-setembro-2010/uma-noite-em-67.html

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