sexta-feira, 5 de novembro de 2010

O bom e velho Bob Dylan


Este ano não teve disco novo de Bob Dylan com canções inéditas, mas, para compensar esta lacuna, sua gravadora – a Sony Music americana – resolveu colocar no mercado algumas preciosidades de seu catálogo em nova embalagem. A primeira delas é uma caixa chamada “The Mono Box”, contendo os oito primeiros discos da carreira de Dylan em sua forma original de gravações monaurais.

Daí, muitos vão perguntar: “pra que lançar novamente em mono?”. É simples, no início dos anos 60, a gravação monaural era tudo que os artistas tinham de recurso sonoro. Os discos foram concebidos em mono e a intenção desses projetos e de artistas como Dylan eram que sua obra naquele momento soasse dessa maneira, pois era o único recurso existente até então. Com o surgimento do sistema estereofônico ainda na década de 60, muitos discos foram remixados para estéreo.

No caso de Bob Dylan, esses primeiros álbuns soavam muito estranho para quem estava acostumado com eles em mono. O álbum “Blonde On Blonde”, de 1966, é um bom exemplo disso. A tentativa de transformá-lo em estéreo foi quase um desastre, segundo alguns fãs. “Blonde On Blonde” tem uma certa mágica em suas mixagens em mono e perdeu tudo isso quando transformado.

Há alguns anos, o selo americano Sundazed lançou esses primeiros álbuns de Bob Dylan em vinil no formato mono. Agora, finalmente a Sony lança essa versão em CD numa belíssima caixa, cujas capinhas de cada disco imitam a arte original dos LPs. Além disso, um livreto ilustrado e repleto de informações acompanha a caixa. Para muitos isso talvez não signifique nada, tanto faz ouvir Bob Dylan em mono ou estéreo, mas para aqueles fãs mais exigentes como eu, isso acaba se tornando um item indispensável na minha coleção de Bob Dylan.

Além dessa caixa, Bob Dylan também remexeu em seus arquivos e colocou à disposição em um CD duplo “The Bootleg Series Volume 9 – The Witmark Demos”. Periodicamente, o músico busca em seus arquivos gravações inéditas e raridades, batizando-as de “The Bootleg Series”. A primeira delas foi em 1991, com os volumes de 1 a 3 reunidos em uma belíssima caixa, apresentada nos formatos vinil e CDs. Esta edição de volume 9 traz gravações que aparecem para um lançamento comercial 50 anos após terem sido gravadas. São 47 músicas em que Bob Dylan toca violão folk, gaita e, ocasionalmente, piano. O nome Witmark vem de seus editores na época M. Witmark & Sons, entre 1962 e 1964.

Um jovem e talentoso Bob Dylan é o que encontramos nessas gravações, que foram feitas antes dele completar 24 anos de idade. Algumas permaneceram inéditas até hoje, outras viraram clássicos como “Blowin’ in -tThe Wind”, “Mr Tambourine Man” e “The Times They Are A Changin’”. A qualidade das gravações é discutível, pois na verdade não passam de rascunhos de canções de Bob Dylan, que posteriormente ganhariam gravações oficiais e se tornariam sucessos de sua carreira. Servem apenas para documentar a maneira pela qual elas foram concebidas e o processo criativo de Bob Dylan. Mais um item para fãs e completistas da coleção de Bob Dylan.

Por falar em fãs mais curiosos, um outro item recém-lançado de Bob Dylan é “The Folksinger’s Choice”, um curioso documento lançado em CD. Trata-se de uma gravação ao vivo que Bob Dylan fez aos 20 anos para uma rádio de Nova York. O programa apresentado pela cantora folk e locutora Cynthia Goodings, no dia 11 de março de 1962, é um achado precioso da carreira de Dylan. Essa gravação foi feita algumas semanas antes do músico lançar seu primeiro disco.

Interessante é que Dylan canta músicas de seus heróis como Hank Willians, Woody Guthrie e Big Joe Willians, algum material inédito, mas nenhuma música que fez parte de seu primeiro disco. São 11 músicas que sobreviveram ao tempo, mais de 50 anos, e a qualidade do material é excelente. As performances ao vivo são interrompidas ao final de cada música por um bate-papo de Bob Dylan com a entrevistadora. Cynthia estava deslumbrada ao ver aquele garoto de 20 anos de idade e sentia nele algo extremamente promissor. Uma das perguntas, a mais divertida, é aquela que ela faz perguntando ao jovem sobre seu chapeuzinho de cantor folk. Ela diz: “Você pretende continuar usando esse seu chapeuzinho quando você ficar rico e famosos?” – ele responde: “Oh!! Eu nunca serei rico e famoso.”

Mais uma vez eu repito, para um fã de Dylan como eu, ouvir uma entrevista dessas é de arrancar lágrimas dos olhos ao sentir aquele talentoso garoto de 20 anos de idade, com uma ingenuidade e simplicidade que impressionam a cada música. Todos que ouvirem esse CD vão sacar que aquele moleque tinha o mundo pela frente e, em breve, a seus pés. Se você gosta de Bob Dylan, não perca esse documento “The Folksinger’s Choice”.

Já que estou falando de relançamentos e raridades, gostaria de aproveitar para recomendar uma grande reedição deste final de ano. Trata-se do álbum “Stand Up”, da consagrada banda britânica Jethro Tull. Foi o segundo disco do grupo, lançado em setembro de 1969, e uma das minhas capas favoritas. Na edição original em vinil, era um LP com capa dupla e quando você abria aparecia um ‘pop up’ que se montava automaticamente com os integrantes da banda.

A mistura do blues e da música folk já vinha desde o primeiro disco, “This Was” (1968), mas nesse segundo a flauta mágica e clássica de Ian Anderson faz um dos instrumentais mais brilhantes de toda história com a música “Bourée”, um arranjo para uma peça clássica de Bach. Um disco que marca a transição do Jethro Tull usando elementos de hard rock, folk, blues, jazz, clássico e psicodelia.

A partir daí, a banda se tornaria um dos maiores expoentes do rock progressivo da década de 70, lançando clássicos como “Aqualung” (1971), “Thick as a Brick” (72), “A Passion Play” (72) e “Minstel In The Gallery” (75), dentre outros grandes álbuns. Nessa reedição de “Stand Up”, que saiu este mês na Europa, encontramos 2 CDs e um DVD. No primeiro CD são 11 faixas-bônus, além das músicas originais de “Stand Up”. No segundo, um concerto ao vivo em 1971 no Carnegie Hall. No DVD-audio, um mix especial do show do Carneggie Hall e uma entrevista exclusiva com Ian Anderson. Quarenta e um anos depois de seu lançamento, “Stand Up” ainda soa como um disco atual e não perdeu sua validade e acredito que jamais perderá. É por essa razão que nos habituamos a chamá-lo de ” clássico do rock”.

FONTE:
http://colunistas.yahoo.net/posts/6137.html

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