"Se as crianças não forem expostas a música estranha, elas podem muito bem crescer, ir à escola, arrumar empregos, ter filhos... e morrer! Sem nunca terem experimentado a loucura! Isso é muito perigoso!" - LUX INTERIOR
segunda-feira, 12 de dezembro de 2011
Oitocentas razões para amar o Fugazi
Por ANDRÉ BARCINSKI
O Fugazi durou de 1987 a 2002. Nesse tempo, lançou seis álbuns de estúdio e fez mais de mil shows.
Cerca de 800 desses shows foram gravados pela banda. Hoje, o primeiro lote, de 130 shows, começa a ser vendido online, numa série chamada “Fugazi Live Series”. Veja aqui.
Sempre adorei o Fugazi. Assim como o Dead Kennedys e o Black Flag, minhas outras bandas prediletas nascidas do hardcore americano, o Fugazi sacou que não era preciso tocar à velocidade da luz para fazer música de alto impacto.
Pelo contrário: o Fugazi é mais intenso justamente quando desacelera e embarca em suas misturas de dub e hardcore. Fugazi era punk para quem gostava de livros e de filmes de John Cassavettes. Por que não?
Lembro do impacto de ouvir “Steady Diet of Nothing”, em 1991. Deve ter sido a mesma sensação que fãs do Clash tiveram dez anos antes, ao ouvir “London Calling” e perceber que a banda tinha amadurecido junto com eles. O punk, como o hardcore, nunca viveu só de velocidade.
Além de fazer música de primeira, os quatro (Ian MacKaye, Guy Picciotto, Joe Lally e Brendan Canty) seguiam um rígido código de conduta “faça você mesmo”: não tinham agente ou empresário, só davam entrevista para fanzines, só tocavam em locais sem restrição de idade, não aceitavam cobrar mais de cinco dólares por um ingresso e não queriam barreira na frente do palco.
Irritados com a violência comumente associada aos shows de punk, pediam ao público para não abrir rodinhas de pogo. Muitas vezes, chegaram a interromper shows só para convidar um fã mais nervosinho a ser retirar – com o cuidado de devolver os cinco dólares de ingresso, claro.
Na época da explosão do Nirvana, em 1991, o Fugazi recebeu ofertas milionárias para assinar com grandes gravadoras. Mas nunca cogitou deixar a Dischord, gravadora de MacKaye.
Na última edição da revista “Mojo”, há uma excelente entrevista com a banda, em que os quatro explicam sua postura e a recusa em assinar com grandes selos nos anos 90. “A maneira como a indústria da música funciona, eles destroem o solo fértil e depois dão o fora”, diz MacKaye. “Foi um período negro para a música. Nós estávamos vendo as pessoas sendo engolidas (...) eu nunca trocaria o que nós tínhamos pelo que o Nirvana conseguiu.”
Quem teve a sorte de ver o Fugazi ao vivo, não esquece. Poucas bandas foram tão intensas e perigosas.
Para os fãs brasileiros, uma ótima notícia: áudios de quatro shows que eles fizeram no país estão disponíveis: Curitiba e Belo Horizonte, em 1994, e Vitória e Joinville, em 1997.
Procurei um clipe de um dos shows brasileiros para colocar nesse post, mas desisti. Em todos, fãs mal educados sobem no palco, pisam em pedais, atrapalham a banda e chegam a irritar o sempre tranqüilo Ian MacKaye.
Optei por um vídeo ao vivo de “Waiting Room”, gravado numa biboca lotada, mas onde os fãs se comportam como punks de verdade, com consideração e respeito pela banda que admiram.
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