"Se as crianças não forem expostas a música estranha, elas podem muito bem crescer, ir à escola, arrumar empregos, ter filhos... e morrer! Sem nunca terem experimentado a loucura! Isso é muito perigoso!" - LUX INTERIOR
segunda-feira, 8 de agosto de 2011
ARQUIVO: entrevista com Marky Ramone
No último sábado (06), completaram-se 15 anos do fim da carreira dos Ramones, que realoizou sua última apresentação, em Los Angeles, em 06 de agosto de 1996. Coincidentemente, 2006, no exato dia em que fazia 10 anos que os Ramones havia colocado um ponto final na sua história, o baterista Marky Ramone esteve em Curitiba para o show de lançamento do seu disco e dvd ao vivo gravado com a Tequila Baby. Antes da apresentação, entrevistei Marky Ramone no hotel onde ele estava hospedado.
A conversa foi ao ar alguns dias depois, no Garagem 95.Para lembrar daquele show e marcar os 15 anos anos do fim do grupo, posto a seguir a entrevista com Marky Ramone, com as devidas observações feitas às respostas, em relação aquilo que aconteceu ou deixou de acontecer a respeito da entrevista de cinco anos atrás até o dia de hoje.
Confira aí:
Hoje, 6 de agosto (de 2006) faz dez anos que os Ramones encerraram as atividades. Você concorda que a banda parou na hora certa?
Nós paramos quando a banda não podia mais continuar. Naquele período Joey já estava com câncer e nós paramos. O que podíamos fazer? Ele tinha que ir ao médico e fazer exames a toda hora. Nós nos separamos depois de 22 anos. Fomos uma das bandas mais longevas do punk. Então decidimos que era a hora certa. Mas, se todos estivessem saudáveis e vivos hoje em dia, certamente estaríamos juntos novamente.
No filme End of the Century é mostrada uma imagem muito mórbida da carreira dos Ramones - discussões, abusos de drogas e frustração pelo fato dos Ramones não serem uma banda top. Por outro lado, o filme Raw mostra que os Ramones tiveram uma vida mais feliz...
Se tivesse sido tão ruim, nós não teríamos ficado juntos. Raw mostra o lado bom, o motivo pelo qual ficamos juntos, que é a diversão. End of the Century mostra apenas um lado. Fizemos um monte de entrevistas, mas apenas os momentos negativos foram explorados. Mas na verdade, nós chegamos lá. Nos tornamos famosos em todo o mundo. Demorou para acontecer porque éramos muito diferentes, mas memoravelmente conseguimos. Éramos felizes com as nossas vidas e carreiras.
Então você não gostou de End of The Century?
Ele é sombrio demais. Na vida existem dois lados da história: o bom e o ruim. E as nossas vidas não poderiam ter sido melhores.
Depois do fim da banda, foram dadas várias entrevistas polêmicas. Você era um dos mais indignados. Lembro de uma entrevista sua para uma revista brasileira, em que você dizia que nunca mais tocaria novamente com Joey Ramone. Depois você acabou participando do disco solo dele. O que o fez mudar de ideia?
Joey e eu tivemos uma pequena discussão porque ele queria que eu tocasse com a sua banda The Resistence e eu tinha a minha própria banda, The Intruders. Ele não podia fazer turnês por causa do câncer, tinha que ficar no hospital e talvez não sobrevivesse. Eu comecei a pensar em tocar e gravar de novo. Nós conversamos sobre isso e ele me pediu para tocar no seu álbum solo em 1999, 2000. Nós éramos muito próximos. Eu fui o único Ramone a tocar naquele disco e o único Ramone a visitá-lo no hospital. Ninguém mais o visitou. Eu o visitei. Tommy, não. Dee Dee, não. Johnny, não. Joey e Johnny nem se falavam mais, essa era a verdade. Eu falava com todos.
Existem boatos de que você está trabalhando em um segundo disco de Joey Ramone. É verdade? (o disco ainda não foi lançado)
Eu não vou participar. Acho que o primeiro disco basta. As melhores canções estão lá. Eu ouvi as outras canções, são legais, mas quero ter participação apenas no primeiro. Tenho certeza que existem muitos outros bateristas que gostariam de trabalhar neste novo disco.
Os primeiros discos dos Ramones foram relançados trazendo demos e b-sides. Existem outros discos que serão relançados no mesmo formato?
Sim. Eu acho que Mondo Bizarro, Adios Amigos e Halfway to Sanity (nenhum foi lançado ainda).
O disco Hey Ho Let's Go: The Greatest Hits acaba de ser lançado no Brasil. Você não concorda que os Ramones já têm muitos discos com "as melhores"?
Existem muitas canções que podem ser "greatest hits". Mas Tommy e eu só pudemos selecionar 20 músicas para este CD. Lá estão provavelmente as melhores canções e talvez duas ou três "esquecidas". Mas este CD pode ganhar uma parte 2.
Joey, Johnny e Dee Dee já não estão mais entre nós. Como você se sente sendo o responsável por manter viva a memória dos Ramones?
É bom, é muito divertido. As pessoas com quem eu toco conhecem as músicas e isso significa um grande controle de qualidade. É apropriado tocar essas canções hoje em dia porque muitos dos garotos que vem aos shows agora eram muito novos quando os Ramones pararam de tocar. E eles querem ouvir alguém tocar as músicas dos Ramones.
Muitos fãs não gostam que você toque canções dos Ramones com outras bandas. O que você pensa a respeito?
Isso é problema deles. Quem são as pessoas certas para tocar as músicas dos Ramones? Bandas cover? Eu não me importo com o que eles pensam.
A morte de Dee Dee Ramone chocou a todos. Você era uma pessoa muito próxima a ele...
Ele era meu melhor amigo.
Você sabia que ele estava usando drogas novamente?
(Suspira) O problema é que ele gostava de maconha, e isso não é droga. Ele não bebia e não usava drogas pesadas, mas um dia resolveu usá-las e morreu. Ele cometeu suicídio? Não! Ele estava muito feliz. Foi uma overdose acidental.
Você tem feito sucesso tocando músicas dos Ramones com outras bandas. Não pensa em voltar a tocar canções que gravou com The Intruders, Speedkings ou Osaka Popstar?
Não. The Intruders e Speedkings eram mais por diversão. Eu não costumo ficar muito tempo em um mesmo lugar. Foi divertido por um tempo, mas eu quis fazer outras coisas. Foi por isso que eu toquei com Jerry Only e Dez Cadena no Misfits por um tempo. Eu não sei o que estarei fazendo daqui a um ano, mas não quero ficar muito tempo com um mesmo projeto.
A coletânea Start of The Century, que traz os seus dois primeiros discos com o The Intruders (Marky Ramone & The Intruders e Don't Blame Me), vendeu mais em alguns meses do que aqueles álbuns em sete ou oito anos. Qual a razão por esse interesse tardio por aqueles discos?
Start of The Century tem uma distribuição melhor. As pessoas têm acesso a ele nas lojas. Os selos com quem eu havia assinado anteriormente não sabiam como trabalhar com música punk. Mas esta nova gravadora sabe e faz isso muito bem. Quando aqueles discos foram lançados, foram fabricados apenas 30, 40 mil discos de cada e, quando eles foram vendidos, as gravadoras simplesmente pararam de fabricá-los. Eu esperei, peguei os discos de volta, sou o dono deles, remasterizei-os, fiz uma nova arte, juntei-os em um único CD e incluí um CD ao vivo. Ficou bom. É um novo começo.
No primeiro disco dos Intruders existem canções ótimas como "I Want My Beer" e "Telephone Love". O que aconteceu com Skinny Bones (primeiro vocalista do The Intruders)?
Skinny Bones teve um problema com drogas. Heroína. Era um ótimo frontman, mas o que podemos fazer? Eu não aceito que pessoas usem drogas. Maconha é diferente. Mas drogas pesadas são ruins. Álcool em excesso é ruim. Então eu tive que tirá-lo e no seu lugar coloquei Ben Trokan, que também era muito bom.
Skinny Bones ainda está vivo?
Está vivo. Espero que esteja melhor. A droga é um vício. Você não pode julgar a pessoa porque ela está usando drogas. Você tem que gostar dela pelo que ela é. Mas eu não o vejo mais.
O CBGB's está mudando para Las Vegas. Você acha que isso é o fim de uma era?
Eu acho que o fim daquela era foi em 82, 83. O legado do CBGB está espalhado pelo mundo, mas ele já não era mais o mesmo de quando a cena punk original começou. Ele se tornou algo mais representativo. Eu sinto que hoje existe novamente uma nova grande cena em Nova York e essas bandas deveriam começar o seu próprio clube, encontrar um outro clube e torná-lo popular como o CBGB's. É o que elas deveriam fazer. Agora existe essa mentalidade de levá-lo para Las Vegas. Legal, sabe. É um final bonito.
Mesmo com o fim dos Ramones, você não parou de gravar e está sempre viajando pelo mundo. Você pensa em aposentaria? O que pensa em fazer quando parar de tocar?
Eu ainda me divirto tocando, fazendo turnês e encontrando amigos. Um dia eu vou parar. Chuck Berry tem 75 e ainda toca. Os Rolling Stones estão com 65 anos e ainda tocam. Jerry Lee Lewis ainda toca. Você olha para esses caras e diz "hey, se eles podem eu também posso!" e eu sou muito mais novo do que eles.
Hoje você parece mais saudável do que na época do fim dos Ramones. O que você faz para manter a forma?
Toco bateria três horas por dia, ando de bicicleta. Sei lá, só faço o que faço e pronto.
Por que você escolheu a Tequila Baby para gravar este CD/DVD ao vivo (foi gravado no bar Opinião, em Porto Alegre)?
Porque eles são muito bons à sua própria maneira e tocam muito bem comigo. Eles também são grandes fãs dos Ramones. O local e o público foram muito legais na noite em que o show foi gravado. Havia 12 câmeras filmando. Doze câmeras! E você percebe isso no CD e DVD, que vêm em uma embalagem muito legal.
Esse trabalho vai ser lançado ao redor do mundo?
Sim. Quando eu voltar quero negociá-lo com alguém nos Estados Unidos e colocá-lo também na Inglaterra (o disco foi lançado somente no Brasil).
Será um CD oficial de Marky Ramone, então?
Sim. A Tequila Baby é uma boa banda e é um ótimo CD e DVD também. E vou registrá-lo também no meu livro que vai sair em 2007 e que se chamará "Faith in the Backbeat" (o livro ainda não foi lançado).
O seu livro será sobre a sua vida ou sobre a carreira dos Ramones?
Será um livro sobre tudo. Richard Hell & The Voidoids, sobre a cena punk, a gravação com Phil Spector, sobre o filme Rock n' Roll High School. A verdadeira história.
Esta semana posto a entrevista com a Tequila Baby, feita no mesmo dia...
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