"Se as crianças não forem expostas a música estranha, elas podem muito bem crescer, ir à escola, arrumar empregos, ter filhos... e morrer! Sem nunca terem experimentado a loucura! Isso é muito perigoso!" - LUX INTERIOR
quarta-feira, 18 de maio de 2011
Lendário CBGB vai ser tema de filme
Foram 33 anos ininterruptos de serviços prestados ao rock and roll. Quando fechou as portas em 2006, foi como se estivessem colocando abaixo o Cavern Club do punk rock. Mas, como se ainda precisasse disso, a história da casa novaioirquina CBGB será imortalizada também em um filme, que será dirigido por Jody Savin e Randall Miller, tendo como co- produtora Lisa, filha de Hilly Kristal, proprietário da famosa espelunca, falecido em agosto de 2007, aos 75 anos.
Quando fundou a minúscula casa de shows em dezembro de 1973, o CBGB & OMFUG (Country Bluegrass and Blues & Other Music For Uplifting Gormandizers), a ideia de Hilly Kristal era atrair músicos e apreciadores da música caipira norte-americana e do próprio blues, estilos que ele acreditava que iriam comandar as paradas de sucesso nos Estados Unidos em 1974. Porém, ao invés disso, o CBGB (como o clube ficou mais conhecido, ou CBGB´s, como era carinhosamente chamado pelos seus ilustres frequentadores), acabou se transformando no berço do punk rock de Nova York.
Foi lá que o Television tocou pela primeira vez, em 31 de março de 1974. O show foi um fracasso de público e a banda era horrível, mas já que o boteco estava mesmo largado às moscas, Hilly Kristal deixou o grupo de Tom Verlaine continuar se apresentando. Tempos depois o Television trouxe para tocar os seus amigos dos Ramones, que o proprietário do CBGB costumava dizer que na época eram ainda piores que o Television. Ironicamente, essas bandas de desajustados acabaram atraindo outros grupos de delinquentes e um público composto por junkies, traficantes, prostitutas, poetas loucos e todos aqueles que traziam no corpo o lado decadente de Nova York na metade dos anos 70. Noitada de casa cheia no CBGB era a legítima festa estranha com gente esquisita.
Daquela turma que viveu e tocou nos primeiros anos da casa, muitos atingiram o estrelato e a fama mundial, como: Patti Smith, Blondie, Talking Heads, além dos próprios Ramones. Outros tiveram suas carreiras abortadas por problemas com drogas, brigas ou pela pouca venda de discos, mas pelo menos deixaram seus nomes na história do punk rock, como é o caso do próprio Television, Richard Hell & The Voidoids, Johnny Thunders & The Heartbreakers, Dead Boys, entre outros. Foi lá também que Malcolm McLaren entrou em contato com a cultura punk e se inspirou para dar forma aos Sex Pistols e, por extensão, ao punk inglês.
Localizado no Bowery, no Lower East Side de Manhattan, o CBGB fechou as suas portas em meados de outubro de 2006, com uma apresentação histórica de Patti Smith e convidados. A contragosto, Hilly Kristal foi obrigado a pôr um ponto final na história do clube, alegando não conseguir mais pagar o aluguel.
Segundo o próprio Hilly Kristal, a vizinhança do Bowery achava que CBGB não se enquadrava mais na paisagem local, hoje uma região revitalizada e que nada lembra o cenário de desgarrados dos anos 70. Para manter viva a história do clube, o proprietário tinha planos de transferi-lo para Las Vegas, para onde levaria até mesmo a privada e os milhares de flyers e pôsteres que decoraram as paredes do CBGB durante seus 33 anos de existência.
Durante a sua passagem por Curitiba em 2006, o baterista Marky Ramone, ao ser perguntado se a despedida do CBGB de Nova York representava o fim de uma era, respondeu: “Eu acho que o fim daquela era foi em 82, 83. O legado do CBGB está espalhado ao redor do mundo, mas ele já não era mais o mesmo de quando a cena punk original começou”.
Marky Ramone tinha razão: mesmo que já tivesse vivido dias melhores, o CBGB tornou-se lendário antes mesmo de fechar as portas. Havia se tornado uma espécie de Meca, solo sagrado e destino de peregrinação de roqueiros espalhados pelo mundo. Vale notar ainda a quantidade enorme de bandas que, ao longo desses anos, mesmo após terem alcançado o sucesso, insistiram em se apresentar naquela espelunca que tinha lotação máxima com 200 pessoas. Também, é significativo o número de artistas que lançaram em disco ou vídeo seus registros “Live In CBGB”. Só citando alguns: J. Mascis, Agnostic Front, Cro-Mags, Vibrators, Dead Boys, Bad Brains, Korn, DRI, Living Colour, DNA, Ritual Tension, Celibate Rifles, Kraut, Chelsea, Special Duties e até mesmo os Ratos de Porão.
O CBGB era incontestavelmente uma peça chave da cultura pop. Na época da morte de Hilly Kristal, e por consequência do fim da história da casa de shows, o guitarrista da E Band, Little Steven Van Zandt, traduziu bem o sentimento de muitos a respeito: “O rock and roll vai sentir saudades dele”.
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