"Se as crianças não forem expostas a música estranha, elas podem muito bem crescer, ir à escola, arrumar empregos, ter filhos... e morrer! Sem nunca terem experimentado a loucura! Isso é muito perigoso!" - LUX INTERIOR
segunda-feira, 3 de janeiro de 2011
Três razões para ir ao U2 (e três para fugir)
Por SYLVIA COLOMBO
Na última vez em que a banda irlandesa esteve por aqui, em 2006, me meti numa "polêmica" com o então editor da Ilustrada, meu amigo Marcos Augusto Gonçalves. Ele escreveu que Bono, com suas mensagens pacifistas, não passava de um "chato". Eu respondi afirmando que não se devia simplificar as coisas assim e deixar o valor artístico e histórico do U2 em um segundo plano. Continuo pensando da mesma forma, apesar de concordar em parte com Mag --Bono realmente erra na dose quando se trata de política, e já foi admoestado inclusive pelo baterista, Larry Mullen Jr (formador e "dono" do grupo), por ter apertado as mãos de Tony Blair em tempos de Guerra do Iraque.
Mas eis que a banda se prepara para novamente visitar o Brasil. Desta vez, a terceira, fará três shows para cerca de 150 mil pessoas, em abril, no Morumbi. Apesar de já tê-los visto ao vivo três vezes (duas aqui, outra no exterior), ainda acho que vale a pena repetir a experiência e resolvi listar alguns motivos para isso. E também apresentar um "por que fugir". Afinal, assistir a concertos de rock em estádio em São Paulo nos últimos tempos virou nada menos que um pesadelo.
1. Cada show do U2 é um espetáculo diferente.
"Under a Blood Red Sky", o show da turnê do disco "War" (1983), é um bom modo de entender como e onde tudo começou. O U2 era então uma entre outras bandas do pós-punk, e começava a namorar com a ideia de grandiosidade. Bono desfilou com uma bandeira branca, entoou "Sunday Bloody Sunday" em sua versão mais famosa, nas Red Rocks, no Colorado (EUA). A partir daí, cada turnê teria uma marca muito própria na trajetória dessa banda que nasceu há quase 35 anos.
Um bom exemplo disso é a tour de "Achtung Baby", que marcou a virada para o pop e a aproximação com o eletrônico. Chamada de "Zoo TV", entre 1992 e 1993, trazia Bono em sua viagem futurista celebrizando excelentes versões de "Until the End of the World" e "Stay (Faraway, so Close!)".
Outro veio em 1997, com a "turnê do limão", a Pop Mart Tour (que passou por aqui), em que o grupo subiu ao palco fantasiado e fazendo um som dançante, não podia soar mais diferentes que em suas raízes. E em 2006 tivemos também em SP "Vertigo", no qual a banda mostrou ter solidificado seu talento para se apresentar em grandes arenas. Todos esses shows têm registros em DVD disponíveis no Brasil.
2. Tudo bem, minha geração não teve um Beatles.
Nem teria, pois os tempos já não estavam mais para isso. Mas quem foi adolescente nos anos 80, no vazio criado pelo fim do grupo de Liverpool, e não necessariamente se identificou nem com o glamour de David Bowie nem com o puro punk dos anos 70, viu no U2 algo porque se apaixonar. Um punk diluído, próximo ao pop, por vezes lírico, de letras políticas e reivindicando grandes causas, o que, naquele momento de vazio ideológico, soava bem. É certo que a banda, hoje, renovou seu público, mas a maioria certamente está na faixa 35-45 anos.
3. O novo disco é sensacional.
Apesar de não ter decolado no Brasil, "No Line on the Horizon", lançado em 2009, tem grandes melodias carregadas pela guitarra cada vez mais característica de The Edge. Merecem atenção "Unknown Caller", "Magnificent" e "Breathe". Dá pra ter uma ideia de como o álbum soa ao vivo em um DVD que saiu recentemente aqui e que registra um show do início da turnê, gravado no Rose Bowl, em Pasadena.
Por que fugir:
1. Haja paciência.
O roqueiro paulistano já se cansou da falta de estrutura da cidade e de seus espaços dedicados a shows. Ir a um concerto num estádio hoje significa necessariamente perder muitas horas de um dia, enfrentar trânsito, pagar R$ 5 ou mais numa cerveja, caos no transporte público e táxis cobrando os olhos da cara. Isso se não chover.
2. Vaidade de Bono.
Sim, se você, como o Mag, não aguenta a pose de heroi do politicamente correto, evite o Morumbi nesses dias. Como o show e o telão têm 360 graus, não há chance de escapar à sua performance, suas caras e bocas e seu batido discurso pela paz mundial entre as músicas.
3. Cansou.
Tem músicas que realmente já poderiam ter saído do repertório do U2 há anos. Não dá para entender como é que ainda não dispensaram as desgastadas "I Still Haven´t Found What I´m Looking For" e "With or Without You". Mas, pelos set lists da atual turnê, é mais do que provável que se repitam por aqui.
Para desempatar, é bom lembrar que quem vai abrir o show é nada menos que o Muse --há inclusive quem o considere melhor que a atração principal. A banda já esteve aqui em 2008 e mostrou seu vigor em apresentações ao vivo. Certamente terá menos tempo desta vez para mostrar seu som antes da entrada do U2, mas resta torcer para que seja o suficiente para executarem as belas "Time is Running Out", "Sing for Absolution" e "Hysteria".
FONTE:
http://www1.folha.uol.com.br/colunas/sylviacolombo/854221-tres-razoes-para-ir-ao-u2-e-tres-para-fugir.shtml
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