"Se as crianças não forem expostas a música estranha, elas podem muito bem crescer, ir à escola, arrumar empregos, ter filhos... e morrer! Sem nunca terem experimentado a loucura! Isso é muito perigoso!" - LUX INTERIOR
quinta-feira, 7 de outubro de 2010
David Bowie em tributo e relançamento
Por KID VINIL
Eu pertenço a uma geração que veio do rádio, de uma época que as novidades chegavam através de suas ondas. Não é à toa que o filme da minha vida é “A Era do rádio”, de Woody Allen. David Bowie apareceu na minha vida através do rádio e a história que vou contar a seguir serviria até de roteiro para Woody Allen, se seu filme chegasse até a década de 70.
Era uma noite chuvosa em 1972 e meu contato com o mundo era o rádio de um fusquinha que pertencia ao meu irmão mais velho. Naquele momento sintonizava uma rádio paulista chamada Excelsior, onde a radialista e DJ Sonia Abreu fazia a produção de um programa apresentado por Antonio Celso, uma das mais belas vozes do rádio brasileiro. Naquela noite, Sonia escolheu dois lançamentos, eram: T Rex, Electric Warrior, e David Bowie, The Rise and Fall Of Ziggy Stardust and The Spiders From Mars. Durante o programa, o locutor falava sobre o lado bruxo de Marc Bolan e também sobre o personagem andrógino mutante de David Bowie em sua encarnação daquele rock star alienígena Ziggy Stardust. Aquele momento era uma revelação na minha vida, enquanto a tempestade caia lá fora, raios cortavam os céus, eu naquele fim de mundo dentro do carro com o rádio no máximo volume, não tinha muita escolha, ou desligava o rádio pra não morrer eletrocutado por um raio ou continuava naquela viagem intergaláctica com T Rex e David Bowie. Claro que resisti aos trovões e arrisquei até o final para não perder nenhum momento daquela avalanche sonora.
Esse é mais um daqueles momentos marcantes da vida que a gente nunca esquece, dada a importância de uma grande descoberta. A partir daquele instante, o mundo me abriu as portas para o espaço sideral até então ocupado por David Bowie, “O homem que caiu na Terra” (título do primeiro filme com David Bowie).
Claro que o fundo musical para esse texto, nesse momento, é o álbum Ziggy Stardust, um dos discos que mais ouvi em toda minha vida. A partir desse trabalho de Bowie comecei a vasculhar sua carreira, voltei alguns anos atrás e descobri Space Oddity, de 1972, Hunky Dory, de 1971 e o fabuloso The Man Who Sold The World, de 1970.
Logo na sequência de Ziggy Stardust ele vem com outra obra-prima do glam rock que foi Aladdin Sane, um disco diferente do anterior, onde as guitarras de Mick Ronson dominavam. Dessa vez, o guitarrista dividia com o piano de Mick Garson os arranjos que tinham até pitadas de jazz e música de cabaré. Essa fase glam de David Bowie é uma das mais fascinantes do camaleão e ainda gerou o álbum de covers Pin Ups, e depois a primeira mudança para “Diamond Dogs” onde Bowie se desliga do grande guitarrista Mick Ronson e dos Spiders from Mars e parte para experiências com novos músicos. Eu, como fã incondicional da guitarra de Mick Ronson e de seu estilo inconfundível, lamentei demais naquela época e, como todo fã da era Ziggy Stardust, custei muito para me adaptar às diversas transformações de Bowie.
Em 1975, Bowie lança Young Americans, onde ele resgatava influências do funk e da disco music, foi pior ainda pra mim… De repente, do subúrbio londrino ele foi parar em Long Island, uma mudança drástica de estilos. O auge dessas transformações veio através de um de seus discos mais criativos dessa fase, Station to Station, de 1976, onde Bowie já demonstrava maturidade e criatividade na mistura de elementos mais dançantes e ao mesmo tempo já flertava com o krautrock do Neu! e do Kraftwerk, que acabaram desaguando em sua fase Berlim em três discos clássicos: Low (1977), Heroes (1977) e Lodger (1979).
Agora, o álbum Station to Station acaba de ser relançado em grande estilo, uma versão com três CDs e uma caixa contendo 3 Lps, 5 CDs e um DVD. É claro, essas bobagens são itens de colecionadores e fãs como eu, que gastam os tubos para ter a obra completa de um artista como Bowie, no formato físico e nos detalhes de capas, encartes, faixas bônus e fotos inéditas.
Além desse item de colecionador, também está sendo lançado o tributo We Were So Turned On: Tribute to David Bowie. Essa não é a primeira vez um tributo em homenagem ao roqueiro é lançado, eu conheço pelo menos uns dez discos já lançados com bandas homenageando Bowie. É impressionante como o DNA de Bowie continua presente em cada passo de cada nova geração da música. Foi assim desde o final dos anos 70, quando o punk rock e a new wave resgataram o glamour de Bowie da maneira mais decadente possível, naquele momento de declínio do império britânico. Isso me fez lembrar do filme “Jubilee” de Derek Jarman, de 1978, que retrata bem esse momento dos filhos bastardos de Bowie. Nessa edição do NME, a nova geração, como o vocalista Brandon Flowers do Killers e Alex Kapranos do Franz Ferdinand, ressaltam a importância de Bowie nas suas vidas e na formação musical de cada um deles.
Foi por essas e outras razões que uma série de novos artistas se reuniram nesse novo tributo a David Bowie, um disco beneficente, cuja renda vai para a instituição War Child. O destaque são os novatos e promissores como Warpaint, uma banda de garotas californianas que fizeram uma releitura espetacular de “Ashes to Ashes”, que fez parte de outra obra-prima de Bowie na virada dos anos 80, o álbum Scary Monsters. Mas tem a presença de veteranos como o Duran Duran, uma das bandas da new wave e da era new romantics mais escrachadamente influenciada por Bowie.
O tributo vem no formato de dois CDs e traz também a nova geração de bandas de Nova York como Vivian Girls, A Place to Bury Strangers e Chairlift, e mais uma série de novas bandas e intérpretes da cena indie rock. Tá certo, tributos são apenas homenagens, não passam disso, pois o mais difícil é fazer melhor ou superar as gravações originais de Bowie, mas valem pela intenção.
Às vezes fica até difícil enumerar a quantidade de bandas influenciadas por Bowie, de repente me vem à cabeça Bauhaus e Japan e nos anos 90, dentre muitas, o Placebo. Bowie declarou ser grande fã do trabalho de Brian Molko e mais recentemente dos canadenses do Arcade Fire. É como alguém disse: “Bowie continua mais influente do que nunca nessa nova geração, um artista sem prazo de validade”.
FONTE:
http://colunistas.yahoo.net/posts/5373.html
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